O título é o mesmo que está na Veja desta semana em sua página amarela, achei uma das entrevistas mais lúcidas e verdadeiras que li nos últimos anos a respeito de política e economia.
Taí alguns trechos mais importantes desta entrevista.
Veja – No Brasil, já há algum tempo, atribui-se boa parte dos problemas nacionais a políticas liberais ou neoliberais. Por quê?
Guedes – Na melhor das hipóteses, devido a uma má leitura da realidade. É irracional dizer que um país que gasta 40% do PIB no setor público tem algo de neoliberal. Porque o Brasil já tem quarenta anos de dirigismo: vinte com os militares e vinte com a social-democracia. Então, quando alguma coisa não vai bem, dizem que a culpa é do liberalismo. É brincadeira. Tivemos a social-democracia populista, com José Sarney, o PMDB e o "tudo pelo social". A sofisticada, ou punhos de renda, com Fernando Henrique. E a popular agora, com Lula. A matriz ideológica brasileira não tem sequer um genezinho liberal. Na última eleição presidencial foi a mesma coisa. Tinha o social-democrata José Serra, o social-reformista Ciro Gomes, o social-sindicalista Lula, o social-populista Anthony Garotinho.
Veja – Por que as reformas não andam?
Guedes – Quem estudou um pouquinho de física sabe que as estrelas que a gente vê à noite não existem mais. São luzes emitidas há bilhões de anos. Mas quando se olha o firmamento brasileiro vê-se a luz de um professor auto-exilado porque lutou meritoriamente contra o regime político. E a de um sindicalista corajoso, brasileirinho, que enfrentou os cães na porta da fábrica. Eles merecem brilhar no nosso firmamento. Mas são ecos do passado. Essa noite não existe mais, tem coisa nova acontecendo. Não há dúvida de que quem está promovendo a reconstrução econômica em todo o mundo é a liberal-democracia. Desde o pós-guerra. Quem fez a reconstrução econômica da Inglaterra, que tinha se tornado uma nação irrelevante? Lamentavelmente, para o desprazer de muita gente, foi uma senhora chamada Margaret Thatcher (primeira-ministra britânica que liderou a reforma do Estado em seu país na década de 80).
Veja – O senhor fala em social-democracia e liberal-democracia. Por que não esquerda e direita, simplesmente?
Guedes – Esquerda e direita são rótulos que ainda subsistem em países atrasados, entre os quais eu incluo o Brasil. Nos desenvolvidos, as duas forças hegemônicas são a social-democracia e a liberal-democracia. O socialismo é uma utopia que se tornou irresistível para os intelectuais, apesar de ser um equívoco intelectual completo. Quem são os economistas socialistas que deixaram uma herança para a sociedade? Sobrou só o próprio Marx, como um grande filósofo. O socialismo, para sua tragédia, virou o ópio dos intelectuais. Virou uma religião. E por quê? Porque cometeu o terrível equívoco de não compreender o que estava acontecendo em matéria econômica. Baseado no desejo de igualdade, de solidariedade, não percebeu o que estava acontecendo do ponto de vista econômico.
Veja – E quanto ao Brasil? O que se pode esperar?
Guedes – O potencial é enorme. O Brasil está tão longe da fronteira de produção, com 50 milhões de pessoas fora do mercado, excesso de impostos, enrijecimento institucional e disfunções burocráticas, que, se houver uma desregulamentação, o país crescerá 12% ao ano durante dez anos seguidos. A riqueza de um país é construída em cima do capital educacional de seus indivíduos, do capital organizacional de suas empresas, do capital institucional de sua classe política e da ação descentralizadora do Estado atacando os problemas de desigualdades de oportunidades, desigualdades educacionais, desigualdades de renda. É nisso que o Brasil tem de apostar.
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