Os homens e as mulheres passaram a se dividir entre esquerda e direita nos primeiros momentos pós-revolução francesa, quando a burguesia solapou o poder da monarquia e da igreja, no século 18. Consolidada a revolução, um parlamento foi constituído com duas facções que tomaram o poder juntas: os jacobinos e os girondinos. Os jacobinos, nome derivado do local onde se reuniam, o Convento de Saint Jacques, em Paris, sentavam-se à esquerda. Era a bancada "gauche", determinada a manter a revolução e não apenas a perpetuação do poder. Os girondinos, oriundos de uma região litorânea do interior da França, chamada Gironda, sentavam-se à direita. Era a bancada "droite", conservadora e que queria legitimar o Estado. Desde então, essa dicotomia ideológica vem gerando conflitos no mundo, fundindo a cuca de jovens e acelerando a queima dos neurônios que restam no resto. Em cada parte do mundo, há uma direita e uma esquerda peculiares aos componentes sociais e políticos de uma nação e de uma época. Começando pela França, os herdeiros dos jacobinos sempre foram melhores que seus espectros dos girondinos. A esquerda francesa sempre foi mais sábia que a direita francesa. Tanto que já conquistou vitórias com candidatos e discursos de direita que se passaram facilmente como esquerda. Já na Itália, se inverte o anagrama sociológico e encontraremos uma direita sábia diante de uma esquerda burra. Na terra de Gramsci e Mussolini, a direita já venceu facilmente batalhas eleitorais se passando por esquerda. Vamos até a Alemanha de Hitler e de Karl Marx, onde temos, depois da Segunda Guerra, as duas facções sabiamente atuando para combater extremismos. Lá, nem a direita nem a esquerda podem ser burras. As experiências históricas impõem estratégias de convívio e assim as duas vão se mantendo, deixando à margem os radicais de si mesmas. Atravessemos o Atlântico e vamos aos Estados Unidos, terra das liberdades individuais, templo do capitalismo. Por lá, historicamente, só existem uma direita inteligente e uma esquerda eternamente burra. A vida política é dividida entre Democratas e Republicanos, ambos de direita. A esquerda não faz sucesso nem na imprensa, como ocorre num país abaixo do Equador. E vamos descendo até terras fronteiriças com o Brasil de Lula. Na Argentina, onde floresceram idéias do guerrilheiro Ernesto Che Guevara e do filósofo Enrique Dussel, não há como imaginar uma direita sábia ou burra, nem uma esquerda burra ou sábia. Os hermanos vivem em seus conflitos permanentes, talvez por não saberem, até hoje, o que danado é direita ou o que diabo é esquerda.
Chegamos.
E no Brasil, tanto a sociologia quanto a ideologia deitam no divã, reféns de freud e clientes de Jung. Por aqui, direita e esquerda são quase siamesas, se confundem num paradoxo histórico e histérico. Em passado recente, a direita construiu um reino da estatização e a esquerda já privatizou até meio-fio. Em dias atuais, a direita clama por ética e a esquerda promove a corrupção.Tão semelhantes são esquerda e direita no Brasil, que ambas têm datas vizinhas a lembrarem seus métodos e suas asneiras. Anteontem, 31 de março, foi a data oficial de um golpe militar de direita que chamam até hoje de revolução, ou contra-revolução. Tal dia, portanto, é o dia da farsa, o dia da direita. E ontem, primeiro de abril, quando adultos do governo socialista parecem crianças nas brincadeiras típicas da data, pode ser considerado o dia da esquerda, o dia da mentira.
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