terça-feira, 13 de setembro de 2005
Decrescimento. Vais aderir???
As imagens das tragédias naturais e das intempéries, mostradas pela TV nos últimos anos, são cópias quase fiéis das cenas de "O Dia Depois de Amanhã", do diretor Roland Emmerich. Tsunamis na Ásia, furacões na América, neve nos Emirados Árabes, pragas de gafanhotos na África, enchentes na Europa, terremotos na Oceania, são acontecimentos que beiram a ficção do cinema e o fim dos tempos das religiões.Mas para alguns ecologistas ou mesmo economistas menos ortodoxos, tudo não passa de sinais emitidos pelo planeta para avisar que vive um esgotamento. As catástrofes contínuas, principalmente a partir deste 2005, são para muitos o começo de um período perigoso e que requer um freio brusco na ganância do homem, que na busca de um suposto futuro pode estar resgatando um desconforto do passado, só que desta vez sem a presença da natureza.Os jornais da Europa começam a falar sobre um movimento pela salvação da Terra, formado por centenas de pessoas, entre 20 e 60 anos, oriundas de diversas profissões e que pregam a total rejeição à sociedade de consumo, à publicidade, ao individualismo, à corrida pelos lucros e à industrialização mundial. O leitor poderá dizer: "mas esse tipo de gente já existiu nos anos 60..." É verdade, só que a galera de agora nada tem a ver com ideologias marxistas, leninistas ou movimentos de paz e amor como os dos hippies.Para o diário francês "Libération", os militantes atuais podem ser chamados de "opositores do crescimento". Profissionais liberais, intelectuais, artistas e estudantes fundaram em Lyon, em meados de 2003, um movimento chamado "decrescimento". E a maioria dos seus integrantes é de personalidades decepcionadas com a esquerda tradicional e economicista. O tal movimento tem um patrono, o economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen que morreu em 1994 e em cuja obra - grande parte publicada nos anos 70 - criticou com veemência o modelo econômico das últimas décadas. É dele o conceito que norteia a pregação dos "decrescentistas": "O crescimento ilimitado num planeta de recursos limitados é impossível. Somente um louco ou economista poderiam acreditar nisso".Nos dias atuais, um dos mestres do tema é o suiço e professor da Universidade de Genebra, Jacques Grinevald, um especialista em questões ecológicas que traduziu para o francês as obras do romeno Georgescu. Seus seguidores já espalhados pela Europa têm posicionamentos bem divergentes dos que defendem o desenvolvimento sustentado. Para os arautos do "decrescimento", os limites dos recursos naturais da Terra não permitem, como se imagina, o crescimento indefinido da economia global, mesmo que levemos em conta os avanços tecnológicos. Para Grinevald, "estamos apenas postergando os problemas ecológicos para o futuro".Os militantes do novo movimento deixam claro que não pretendem propor um sistema revolucionário, como no passado apregoavam os socialistas e comunistas. "O decrescimento não é um sistema, mas sim uma palavra simbólica que transporta o imaginário necessário para compreender o imaterial, para reafirmar a primazia do político frente a técnica, para se opor à religião do crescimento", diz um recado metido a conceito no site do movimento, www.decroissance.info.Os "decrescentistas" pregam a valorização do tempo e o fim do terror do consumo. Rejeitam radicalmente e chamam de argumento demagógico a tese de que um empreendimento é importante só porque gera emprego, "num truque para esconder que fomenta o desequilíbrio ambiental", lembra um ativista no site Swiss Info. Um dos ensinamentos do movimento: "Passar mais tempo com a família e os amigos, consumir produtos frescos produzidos na região e não pelas grandes empresas, freqüentar bibliotecas públicas ao invés de shopping centers, aprender um instrumento ao invés de consumir música, fazer esportes e consertar os sapatos".Segundo o suiço Grinevald, o romeno Georgescu redifiniu o processo econômico integrando variáveis ecológicas, unindo as ciências econômicas às biológicas e não à matemática e à física. O papa do "decrescimento" nasceu na Romênia em 1906 e morreu nos EUA em 94 aos 88 anos. Era rabugento e tratava os alunos com rigor de quartel. O brasileiro Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central, foi seu aluno.Sua obra mais famosa é "A Lei da Entropia e o Processo Econômico", de 1971. Dizia que todas as formas de energia são transformadas em calor, sendo que o calor acaba se tornando tão difuso que o homem não pode mais utilizá-lo. Georgescu pregava que o processo econômico obrigaria a humanidade a abandonar o crescimento e correr em busca de recuperação via o decréscimo do produto. Natal tem grande potencial de "decrescentistas", quem sabe com diretório armado em Ponta Negra.
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