Por Carlos Castilho*
Há um consenso entre os que estudam a internet de que ela terá uma grande influência na definição dos novos centros de poder que estão surgindo na sociedade contemporânea. Mas o que ninguém sabe é como este processo vai se desenrolar, quando os seus resultados aparecerão e de que forma.
Os processos eleitorais configuram momentos em que as pessoas tomam decisões que vão moldar o cenário político e por conseqüência uma nova geografia do poder no país ou na região. Como a internet já faz parte do contexto social contemporâneo, ela começa a provocar reações desencontradas tanto entre os conservadores como entre os liberais.
As pessoas tomam decisões a partir de mensagens captadas pelo sistema cognitivo individual que por sua vez está condicionado a contextos específicos, dando origem a percepções diferenciadas. As mensagens são transmitidas e recebidas dentro do processo da comunicação, transportadas pelos chamados meios de comunicação (jornal, radio, TV, internet, cinema, livros, publicidade, propaganda etc.).
A internet é um meio de comunicação que opera no contexto de redes sociais formadas por usuários que interagem de forma horizontal e descentralizada. Estas características levaram o sociólogo espanhol Manual Castells a afirmar que "numa sociedade em rede, a política é essencialmente a política da mídia" [1], ou seja ela é determinada pela política dos meios de comunicação.
É esta característica que está deixando os conservadores nervosos e beligerantes enquanto os liberais mostram-se perplexos e desorientados. A internet quebrou o controle quase absoluto que os conservadores tinham sobre os meios de comunicação e isto os está assustando muito. A multiplicação vertiginosa dos weblogs, a disseminação viral dos twitters e o crescimento constante das redes como Facebook , os colocam diante de situações não previstas e incontroláveis.
O controle da comunicação sempre foi junto com a força militar o binômio responsável pela hegemonia de um segmento social cujo poder é financiado pela acumulação de riquezas. Como os conservadores estão perdendo o controle da comunicação isto os está obrigando a rever o seu modelo de poder político. A recente crise no sistema financeiro mundial é um sintoma deste ajuste, que até agora ninguém sabe como vai terminar.
Por seu lado, os liberais, ainda não chegaram a um consenso sobre o modelo econômico que viabilizará os negócios digitais, a longo prazo. A ausência deste modelo fragiliza os seus questionamentos políticos porque mantém a dependência dos internautas em relação à economia convencional.
Politicamente, a geração internet mostra-se refratária às práticas e valores tradicionais tendendo ao nihilismo eleitoral. Mas esta atitude, embora rotulada como apolítica, é na verdade profundamente política, porque aponta para o surgimento de um contra-poder alimentado pela comunicação horizontal e descentralizada dentro da internet.
Os dilemas e incertezas dos que desconfiam da internet são claramente visíveis na imprensa brasileira, que se mostra integrada ao sistema de poder político hegemônico no país, sem dar-se conta de que existe um contra-poder em gestação, cujo perfil é totalmente distinto daquele que caracterizou a esquerda.
A cobertura das eleições presidenciais deste ano faz parte deste contexto midiático e tende a fortalecer a idéia de que só existe um poder político, o que é uma ficção. Existe um poder hegemônico, mas a internet está criando outro que funciona segundo regras próprias e que em sua maioria ainda não foram suficientemente materializadas. A única coisa que se sabe é que ele provavelmente será fragmentado e descentralizado. (*Do site Observatório da Imprensa)
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