Sempre que leio reportagens revelando desbaratamento de escândalos com dinheiro público, como neste caso do depoimento do cara que pagava propina aos envolvidos na Operação Higia, fico com aquele ar de quem já imaginava, e nunca me surpreendo. A série de escândalos no serviço público do RN que ganhou as páginas políticas e policiais nos últimos anos, inevitavelmente acende em mim aquela desconfiança com a objetividade da Lei; mantenho-me intrigado com o arrastar dos inquéritos.Minha pergunta, acredito, é a pergunta de muita gente, que como eu não domina a ciência do Direito: por que tantos agentes públicos alteram o padrão de vida em tempo tão curto e as autoridades nunca questionam os critérios e caminhos para tal mudança? Peguemos a cidade de Natal e algumas outras como exemplo: poucos lugares em estados mais ricos há tantas figuras ilustres adquirindo carrões em poucos meses de serviço público. Nunca foi tão fácil desembolsar R$ 200 mil por aqui. Multiplicam-se as mansões e apartamentos luxuosos adquiridos depois que seus donos assumem cargos em governos ou instituições da administração pública, e isso só bastam cinco ou seis meses de “trabalho” e não toda uma vida como é praxe da maioria. Será que são mesmo as leis que impedem um delegado, um promotor, um juiz de questionar e/ou escarafunchar tão explícito e suspeito azimute no padrão de vida desses bacanas que desfilam por aí sua autoridade e representação popular? Será que não seria a Matemática muito mais eficiente que o Direito nas investigações e incriminações dessa gente? Tão fácil fazer umas continhas, regra de três simples, e constatar que o salário de um secretário de governo não permite vôo tão alto. Some-se o salário de vereador em quatro anos de mandato e saberemos impossível acumular itens imobiliários e mimos móveis só com o “suor” do contracheque. Numa pasta qualquer do governo estadual não cabe o ar de nababo do seu titular. No ambiente eletivo de maior coturno é, por demais estranho, – creio que os senhores juízes e promotores percebem – que um candidato a deputado ou senador gaste milhões para eleger-se, quando em quatro anos de mandato seu ganho não é isso.
Anualmente vemos pessoas comuns vestirem a fantasia política e em tempo recorde exibirem nas ruas e na mídia um novo “look” para combinar com a riqueza meteórica. Líderes comunitários, sindicalistas, comerciantes, todos no submundo partidário. Recentemente, no último verão, parte da sociedade ficou sabendo dos novos ricos que se misturaram aos velhos ricos nas águas de Pirangí, fazendo com suas lanchas o que os meninos de antanho faziam com seus pintos, uma disputa sobre tamanho e volume.
Não conheço outro lugar em que as relações sejam tão promíscuas entre poder e mídia quanto no RN, salvo Brasília, é claro. Aqui, o jornalismo se traveste de publicidade e a propaganda atua como imprensa, num moto-contínuo imoral e cínico. Se no ambiente futebolístico o novo craque trata logo de furar a orelha e arranjar uma namorada loira, no fértil mundo dos negócios da comunicação chapa branca aparecem apartamentos, casas de praia, lojas em shoppings e pose, muita pose.
A corrupção no serviço público está para aqueles que não denunciam como o tráfico de drogas para aquele garotão que arranha uma guitarra fumando um baseado. São duas formas de cumplicidade com ação direta de participação no crime. O policial corrupto que protege o assaltante não é tão diferente do jornalista que enaltece o agente público ladrão e omite seus deslizes. É só prestar atenção que todos andam bem de vida. O que falta aqui é aquela determinação que marcou o escândalo de Watergate: sigam o dinheiro, senhores da Lei!
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