Por Woden Madruga.
A censura aos livros infanto-juvenis de Monteiro Lobato, determinada pelo Conselho Nacional de Educação, medida absurda que tem merecido o repúdio dos meios intelectuais brasileiros (protesto da Academia Brasileira de Letras) e que vem repercutindo na Europa (escritores e artistas manifestam sua indignação) também é motivo de protesto no Jalapão, onde vive o botânico Florentino Vereda, eventual colaborador desta coluna. O Jalapão fica no Estado de Tocantins e constitui a maior área contínua de Cerrado do Brasil. Lá está o Parque Estadual do Jalapão, no qual Vereda, depois de pesquisas sobre Mangabeira, volta agora a sua curiosidade científica para o Capim Dourado (conservação e manejo). Pois foi do Jalapão, olhando para a Cachoeira da Velha, que Florentino Vereda escreveu a carta recordando o tempo que frequentava o Sítio do Pica Pau Amarelo e flertava com Narizinho e Emília. Confira a ironia do ilustre missivista:
“Meu caro Woden:
Cá pra nós, você não acha que o Brasil está vivendo um revisionismo digno do Camarada Mao, que mal lhe pergunte? Não que eu seja contra. Afinal, a História deve ser reescrita para que se corrijam os erros do passado, agora que o Brasil foi redescoberto pelos “cumpanhêros” do PT. Veja, por exemplo, Monteiro Lobato, leitura preferida do meu tempo de menino. Uma nova leitura da sua obra e das suas posições políticas parece mostrar que ele foi um mestre do duplo sentido. A começar pelo “SÍTIO DO PICAPAU AMARELO”, cujo título estampa, disfarçadamente, dois palavrões de conteúdo erótico e machista. Poderia chamar-se “SÍTIO DO PERERECA VERMELHA”, não acha?
O Saci-Pererê teve a perna esquerda amputada (inda bem que naquela época não havia SUS) e pula com a direita, o que me leva a crer que Lobato era um anticomunista. Tia Anastácia, uma negra (desculpe, afro-descendente) sem cultura, não passa de uma escrava aceita na casa de Dona Benta, a quem lhe serve, fiel e submissa, trabalhando sem carteira assinada. E o pó-de-pirlimpimpim, que fazia as crianças viajarem? Existe algo mais explícito? Hoje, adulto de cabeça feita, não tenho dúvidas de que Lobato, ao pregar a exploração do petróleo – ouro negro – subliminarmente, defendia a volta da escravidão. Como pude ser tão ingênuo...
Em boa hora o Conselho Nacional de Educação resolveu recomendar a retirada de toda a obra de Monteiro Lobato das escolas. Talvez o efeito-Lobato possa explicar atual crise cultural por que o Brasil atravessa. As letras das músicas refletem esse vazio. Dia desses, no rádio do carro (entre as cidades de Mateiros e Ponta Alta do Tocantins), ouvi um forró cujo refrão dizia:
Eu sou um tarado.Comi o mico leão dourado.
Pode? Por estas e outras é que sugiro também a revisão das letras de várias cantingas-de-roda (êpa!!!) cujo conteúdo poderá corromper crianças e adolescentes:
Atirei o pau no gato tô-tô Mas o Ibama-ma-ma me prendeu-deu-deu...
(...)
O cravo brigou com a rosa no pátio da fazenda O cravo foi condenado pela Lei Maria da Penha..
Tá certo. A rima não é boa, mas, convenhamos, é politicamente correta. Queria o quê?
Músicas aparentemente ingênuas, mas de forte apelo erótico, seriam abolidas de vez. Exemplo: O pião entrou na roda, o pião... Sobrariam apenas umas poucas, atualíssimas!
Se gritar pega-ladrão Não fica um, meu irmão...
Aí poderemos dormir sossegados. De hoje em diante só vou ler Paulo Coelho.
Um abraço ecológico,
Do seu admirador Florentino Vereda.
P.S.: - Como vai o carnatal? Os emergentes devem estar se sentindo no paraíso.
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