sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Carro, sim; educação, não
A manchete é do jornal Estado de Minas e quase trinca as vidraças da perplexidade dos bestas: “Mineiro gasta 3 vezes mais em carro do que no estudo". Mineiro aí é o cara (ou cara) nascido em Minas Gerais, gente tida como comedida nos gastos, o mais econômico dos brasileiros, daqueles que, nas longas conversas dos alpendres, veredas de Guimarães Rosa, quando a prosa é da parte da noite apaga o candeeiro (para não gastar o querosene) e desce as calças para não gastar os fundilhos do brim. Isso, certamente é folclore dos matutos de lá. Com o pessoal da praça a história é outra. Está de acordo com os tempos modernos. A notícia do jornal de Belo Horizonte conta o seguinte:
- Combustível, seguro, financiamento, IPVA, estacionamento, manutenção... As despesas das famílias mineiras com carro consomem 10% do orçamento mensal, atrás apenas de itens essenciais como alimentação (17%) e artigos para casa (12%). Já os custos com material e mensalidade escolar não passam de 3%, segundo levantamento inédito.
- A classe C prefere por os filhos na escola pública e comprar automóvel, gastando até 4,5% a mais nele que em educação. A classe B aperta o cinto para garantir a escola particular, mas mesmo assim os gastos com veículos são bem maiores.
Depois de ler a notícia fiquei remoendo com os botões do pijama imaginando se a pesquisa idêntica fosse aplicada na volúvel sociedade potiguar. Basta uma passadinha pelas escolas natalenses, nas horas de deixar e pegar a garotada para se ver os carrões da pátria assinalados, verdadeiros troféus das radiantes classes A, B e C desta laboriosa aldeia de Poti mais exibida. Poderia fazer uma conferida nas imediações dos restaurantes e bares metidos a besta. Ou nos salões das dondocas deslumbradas. Ou quase. Nada mais radiante do que a civilização dos parrachos, mais agora que ela acaba de descobrir, em oito parcelas, os encantos do mares do Caribe.
No rastro dessa sociologia mineira (gasta-se mais com carro de que com educação) li outra notícia, agora na Folha de S. Paulo, dando conta de que o turista brasileiro ocupa o terceiro lugar no ranking mundial dos que mais gastam nos Estados Unidos, perdendo apenas para os japoneses e britânicos. A notícia brinda ainda o rico turista brasileiro com outros enfeites. A pesquisa é do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Destaquei alguns tópicos da notícia:
- Os gastos dos brasileiros nos Estados Unidos explodiram. Cada brasileiro que vai aos EUA gasta, em média, US$ - crescimento de 250% desde 2003, só perdendo em gastos para o turista chinês.
- O brasileiro já está em 3º lugar no ranking dos turistas que mais gastam nos Estados Unidos, atrás apenas dos japoneses e britânicos (não incluindo os vizinhos mexicanos e canadenses, que viajam grande parte das vezes por via terrestre e para fins não turísticos).
- Neste período (de 2003 a 2010),o brasileiro passou do 7º turista que mais gasta nos Estados Unidos para o 3º, ultrapassando os alemães, os franceses, os sul-coreanos e os australianos.
- Os brasileiros sempre viajam para fazer compras, mas nestes últimos sete anos, boa parte deles passou a ir aos Estados Unidos apenas para fazer compras.
Pena que a reportagem da Folha não revele o que brasileiro gosta de comprar tanto nos Estados Unidos. Mas não é difícil saber. Basta ouvir os papos e ver os enfeites importados.
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