terça-feira, 19 de junho de 2012
Paul - 70 anos
John Lennon era o general da banda, ninguém duvida. Mas, como ocorre no cotidiano de um quartel militar, era o sargento Paul McCartney quem mantinha em evidência a ordem do dia com os outros beatles. Macca ditava o ritmo e a harmonia produtiva.
Não estou tratando aqui de estabelecer parâmetros sobre qual era o melhor dos Fab Four, apenas tentando mostrar que entre as qualidades que em cada um deles se sobressaíam aos outros, como a liderança institucional de John, cabia a Paul a referência musical.
Não existiriam os Beatles sem John Lennon, óbvio. Mas não haveria um equilíbrio entre sua veia criativa e seu destemperamento psíquico sem a presença do amigo Paul McCartney. E ambos não seriam o que foram sem os parceiros George e Ringo.
Os quatro formaram o mais perfeito quarteto da história, superando em glórias e culto até mesmo outros dois grupos de quatro ícones criados por Alexandre Dumas, em 1844, e por Stan Lee, em 1961. Os mosqueteiros de Liverpool foram mais que fantásticos.
A curta, e no entanto mais que longeva, trajetória dos Beatles deve muito ao talento musical e à inteligência comercial de McCartney. Foi ele o único a não depositar confiança no empresário Allen Klein, que já havia passado a lábia em Lennon e até no Mick Jagger, dos Rolling Stones.
Foi ele o primeiro a perceber a crise que levou ao fim do grupo; tentou abrir os olhos dos outros três para a fome pecuniária de Klein, identificou a ingerência perigosa de Yoko Ono, mas evitou confronto para não penetrar no terreno pessoal do amigo.
Quando John trocou a namorada de adolescência pela artista japonesa, e com seu peculiar autoritarismo impôs aos amigos uma distância física e emocional de Cynthia Powell, foi Paul o único a ignorar tal deselegância, visitando a mãe de Julian Lennon.
Em seu livro autobiográfico “John”, em que Cynthia narra sua vida com Lennon desde o ginásio até à separação, em 1968, ela conta emocionada sobre a rosa vermelha que Paul lhe deu ao visitá-la. “Ele era o único que não tinha medo de John”, declarou.
Desde os primeiros anos da amizade, McCartney impôs com naturalidade o respeito que Lennon teve por ele até morrer em Manhattan, em 1980. A capacidade teórica e prática de Paul superava a força da liderança de John, como na chegada de George Harrison.
Em princípio, o aprendiz de ditador educado na chibata moral da tia Mimi rejeitou a presença do menino de 15 anos na banda, mas foi vencido e surpreendido quando Paul colocou George diante dele e pediu que tocasse o violão. John quase que babou.
Dos quatro gênios, Paul McCartney foi aquele que melhor soube se relacionar com os vícios, principalmente as drogas em moda nos loucos anos da década de sessenta. Livrou-se da maconha e da compulsão por uísque com um racionalismo todo seu.
Não faz muito tempo, deixou de dar uns tapas na coisa, baseado no princípio paterno de não influenciar a filha Beatrice. Fugiu do uísque quando o vício já parecia tê-lo dominado, nos tempos em que a carreira dos Beatles começou a gerar contrariedades.
Até 1970, com a banda já separada, Paul lutou contra aquele que o poeta Vinícius de Moraes chamava de “melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado”. A então mulher, Linda, fugiu com as crianças para a fazenda que ele ainda tem na Escócia.
Hoje, dia do seu aniversário de 70 anos, os fãs pelo mundo afora fazem louvação nas redes sociais, a mídia lhe dedica espaços enormes, mostrando que nenhum dos ídolos dos anos 60 chegou aonde ele chegou em se tratando de reconhecimento mítico.
Muitos brincam dizendo que Paul McCartney faria hoje 70 anos, se estivesse vivo; numa brincadeira com a lenda urbana criada em 1966, logo após os Beatles lançarem o álbum “Revolver”. O boato reforçou-se em 67 com a canção “When I’m Sixty-Four”.
Composta por ele, mas logo atribuída a John, já que o verdadeiro Paul havia falecido num acidente, a música tenta antever o autor no futuro, aos 64 anos, um idoso quase inerte e à espera do fim. O Paul de 25 anos que a compôs jamais imaginou ser o mesmo cara aos 70. O sargentão do rock, um mito que não envelhece.
Alex Medeiros
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