O chefe do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu pessoalmente ao primeiro-ministro português, Passos Coelho, para dar atenção aos interesses da construtora Odebrecht na privatização da empresa EGF, sub-holding da paraestatal Águas de Portugal, segundo relatam novos documentos da operação Lava Jato.
De acordo com telegramas diplomáticos trocados entre chefes de postos brasileiros no exterior e o Ministério das Relações Exteriores, entre 2011 e 2014, “as atividades do ex-presidente Lula em favor do grupo Odebrecht no exterior foram além da contratação para proferir palestras, contrariando o que o petista e a construtora têm sustentado”.
A movimentação de Lula em Portugal é relatada em dois telegramas: em 25 de outubro de 2013, o embaixador brasileiro em Lisboa, Mario Vilalva, enviou um comunicado sobre sua visita ao país, no qual o diplomata deixa claro que a visita do ex-presidente resultava do convite da Odebrecht, por ocasião dos 25 anos de presença da construtora brasileira em Portugal.
Menos de sete meses depois, noutro telegrama, numa análise sobre a privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), Vilalva notava que as empresas brasileiras Odebrecht e Solvi, em parceria com o grupo português Visabeira, demonstraram interesse no negócio, o que gerou simpatia dos formadores de opinião em Portugal, fazendo referência “a ação direta de Lula em favor da Odebrecht”.
“O ex-presidente também reforçou o interesse da Odebrecht pela EGF ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que reagiu positivamente ao pleito do colega brasileiro”, informou o diplomata, citado pelo jornal O Globo, edição de domingo, que revela que o contato a favor da construtora foi feito em conversa privada.
Segundo site do Instituto Lula, o ex-presidente encontrou-se com Passos Coelho no dia 24 de abril, e teriam falado apenas da situação económica mundial e da Copa do Mundo no Brasil.
Na época, Lula deu uma entrevista à televisão portuguesa, a propósito dos 40 anos da Revolução dos Cravos e abordando vários temas, defendendo uma maior participação de empresas brasileiras nas privatizações conduzidas em Portugal, sem no entanto citar nenhuma empresa.
Na ocasião do telegrama, a construtora brasileira era uma das sete que tinham manifestado oficialmente interesse na privatização da EGF, mas dois meses depois a Odebrecht acabou por não formalizar uma proposta.
Lula agora é investigado oficialmente pelo MP por favorecer a construtora Odebrecht a obter contratos durante viagens para África e América Latina, entre 2011 e 2014, quando já não era presidente da República.
O Globo afirmou que, no âmbito das buscas que a PF efetuou à casa do empreiteiro Marcelo Odebrecht, em 19 de junho, “durante a 14.ª etapa da Lava Jato”, foram apreendidos “documentos, correspondências e mídias”, sendo que um HD que estava num cofre no quarto do empreiteiro armazenava troca de mensagens sobre o jantar.
Em resposta ao jornal O Globo, o Instituto Lula afirmou que “o ex-presidente não atuou em favor da Odebrecht, nem fez gestão a favor da empresa“, referindo que Lula da Silva se limitou a comentar “o interesse da empresa brasileira pela empresa portuguesa (…) que, aliás, era público há muito tempo“. Ou seja, o instituto prefere destacar a fala de Lula na TV portuguesa e não a conversa em privado com Passos Coelho.
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