Ibope desmente Ibope

Nenhum doido em sã inconsciência acreditou nessa conversa de que o índice de indecisos no RN é de apenas 3%, quando no resto do Brasil o povo desconsiderava a campanha e os candidatos.
E antes que me chamem de chato, coisa que verdadeiramente sou, informo aos bem comportados e iludidos com pesquisas que agora não sou eu quem está dizendo que os índices locais estão errados. É o próprio Ibope. É a revista Veja, em sua nova edição que chegou este sábado às bancas.
A campanha eleitoral 2006 é a mais fria da história recente, diz a matéria especial de Veja, galgada nos números de duas mil entrevistas feitas pelo Ibope em todo o País, onde nada menos que 68% da população demonstram a apatia e a desatenção com a campanha.
Na pesquisa exclusiva encomendada pela revista de Roberto Civita, um dado incrível: de cada 10 eleitores, 6 não iriam às urnas se o voto não fosse obrigatório. Há também uma comparação drástica entre dados de 1989, quando Collor foi eleito, e agora, quando Lula tenta a reeleição: naquele ano eram 81% dos brasileiros que não confiavam nos políticos; agora são 90%.
Portanto, pergunto em qual Ibope o leitor vai acreditar. No Ibope que aferiu a preferência dos potiguares ou no Ibope que pesquisou todo o Brasil para a Veja? Será mesmo que o povo papa-jerimum está tão interessado assim e envolvido na campanha eleitoral? A matéria da revista também é ilustrada com as opiniões de celebridades, todas totalmente alheias à campanha e rejeitando as urnas.
O ator Lázaro Ramos, da Globo, diz que nem está assistindo os programas. O humorista Lucio Mauro Filho tem certeza que o povo vai votar sem gosto. O escritor João Ubaldo Ribeiro, aquele que roubou a mulher de um colega em Natal, declara que é a campanha mais fria que ele viu em 65 anos de vida, enquanto seu colega Ziraldo diz que a campanha é triste. O casseta Marcelo Madureira se declara desanimado e põe a culpa no PT.
Já o músico Wagner Tiso, que é também personagem da coluna de Diogo Mainardi como um dos artistas estatais do Brasil, afirma estranhamente não ter interesse em nenhum tipo de ética. Como se sabe, Tiso é petista e amigo pessoal de Lula e de muitas lideranças do PT. A pesquisa Ibope de Veja acaba sendo um raio-X do âmago de uma sociedade que durante 25 anos acreditou que a corja do Lula iria mudar a prática política no País.
O problema é que essa sociedade, tão hipócrita quantos os partidos políticos e seus elementos, desencantou geral, mas manteve o crédito no operário farsante, ao ponto de reelegê-lo em primeiro turno no dia 1 de outubro. Eu torço para que o Brasil afunde cada vez mais na crise moral e institucional que o devora. O povo, que de heróico não tem nada, merece tudo isso.