terça-feira, 29 de agosto de 2006
O fantasma do preço defasado
Os preços no Brasil não ficam quietos por muito tempo,principalmente quando se trata de combustível
por Bob Sharp
Além de sermos uma nação amaldiçoada em termos de combustíveis, como tenho comentado nessa coluna, em função das confusões que nos assolam há décadas gasolina com baixa octanagem até o final dos anos 80, gasolina com álcool em proporção absurda, carro a diesel aqui não pode etc. , somos uma nação assustada com uma palavra: defasado. É impressionante como a turma lá na "ilha da fantasia" gosta de falar nisso. Talvez por acharem que é uma forma branda de dizer "vem aumento aí".Estava tudo muito bem: real valorizado diante do dólar, balança comercial superavitária em muito, preços do petróleo nos mercados internacionais em viés de queda (temos nosso petróleo, mas isso parece não vir ao caso). Mas veio ultimamente a conversa de gente da Petrobrás de que "os preços dos combustíveis no Brasil estão defasados". Fala-se em mais de 10%. Ou seja, que nossos bolsos estejam preparados mais uma vez. Evidente que não antes de outubro. Como nos encontramos em ano de eleições majoritárias, em que o presidente da República é candidato à reeleição, a receita é nossa velha conhecida: até o dia do sufrágio tudo fica como está. Já depois, salve-se quem puder.Um desses dirigentes da Petrobrás chegou a dizer que os preços dos combustíveis aqui estão mais baixos do que nos Estados Unidos. Estive lá há menos de um mês e a gasolina mais cara, tomando uma média dos postos que vi, estava em R$ 1,85 o litro (US$ 3,25 o galão). Aqui a gasolina mais barata, a comum não-aditivada, está a R$ 2,40. Uma gasolina intermediária como a premium anda pelos R$ 2,80. E nossos preços estão defasados... Piada, e de muito mau gosto.Aliás, é só dar uma espiada nos balanços da Petrobrás que não é mais estatal, mas mesmo assim é controlada pelo governo, que detém em torno de 30% das ações da empresa para sentir como é essa tal de "defasagem". A cara de pau dessas pessoas parece não ter mesmo limite."Estou pouco ligando para o aumento da gasolina, pois posso usar álcool no meu flex", pode o cidadão comum pensar. Ledo engano, como se diz. A turma do álcool é esperta: sobe a gasolina, sobe o combustível vegetal. É assim nos Estados Unidos, é assim aqui. Eles partem do princípio de que se há quem pague, que o preço suba. Planilha de custos parece só servir para se exercitarem no uso da excelente planilha eletrônica Excel. A baliza do preço do álcool é o da gasolina e ponto final.Já é mais do que tempo de fazermos uso de existência de petróleo no território pátrio e em grande quantidade e ficarmos livres do jugo da especulação de meia-dúzia de espertos no mercado internacional do petróleo. O sistema capitalista, que defendo, tem inúmeras virtudes, como a livre concorrência, a liberdade para se produzir o que se quiser, a valorização da competência, mas tem o grave defeito de ser sensível aos movimentos especuladores.Vendaval no Mar do Norte? O Irã ameaça produzir bombas nucleares? O consumo de verão (veículos) aumenta nos Estados Unidos? O consumo de inverno (aquecimento de prédios) aumenta na terra de Tio Sam? O furacão Katrina fez estragos no Golfo do México? Hugo Chávez diz que pretende interromper a venda de petróleo venezuelano para os EUA? O problema não importa, o fato é que petróleo vai custar mais.É sabido que em tempo de guerra os preços precisam ser controlados, tal como aconteceu nos Estados Unidos quando o país entrou na Segunda Guerra Mundial após o ataque japonês a Pearl Harbor em 1941. Se não houver tal controle, a irrevogável lei da oferta e da procura desembesta sem freios, para enormes lucros de uma minoria e grandes perdas da maioria.O Brasil finalmente conquistou, há poucos meses, a tão sonhada auto-suficiência em petróleo, uma luta iniciada em 1953 com a criação da Petrobrás durante governo de Getúlio Vargas. À parte o que eu ache ou deixe de achar de nosso presidente-candidato, produzirmos o petróleo de que precisamos (já com alguma sobra) não é realização de seu governo, ao contrário do que vem sendo contado em prosa e verso na propaganda eleitoral em horário gratuito na tevê aberta. Foi apenas uma coincidência de fatos.Como nos encontramos numa guerra só que de preços, com a especulação correndo solta e mandando o preço do petróleo às alturas, evidentemente sem nenhuma justificativa palpável , deve o governo brasileiro adotar uma política de controle de preços dos combustíveis. Vai, sim, contra o regime de preços livres do regime capitalista, mas nesse caso não há alternativa.A influência dos preços dos combustíveis nos custos de vida e de produção é muito maior do que se imagina. Por isso, não pode uma nação ficar refém do interesse puramente comercial de Petrobrás. É evidente que é impensável querer que a empresa tenha diminuídos os lucros a ponto de se tornar inviável, mas é preciso conciliar os interesses das partes. Isso só será conseguido de uma maneira: mão forte do governo. Que, inclusive, pode ajudar reduzindo a carga de impostos.O Brasil precisa se livrar de uma vez por todas do fantasma do preço dos combustíveis defasado. Quanto antes, melhor.
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