quarta-feira, 19 de setembro de 2007
O ovo da serpente
Era janeiro de 2001 quando uma companhia aérea com nome engraçado começou a voar para cinco cidades brasileiras, com apenas seis aviões. A Gol logo se tornou conhecida por um tripé de razões prosaicas: passagens baratas, vendas pela internet e serviço de bordo de baixíssima qualidade - um bando de garotos felizes por distribuir barras de cereais e acreditar que estavam reinventando a roda. Com esse perfil operacional permitiu que pessoas de baixa renda tivessem acesso ao mundo outrora exclusivo dos aviões de carreira e saíssem por aí tão deslumbrados quanto seus tripulantes.O tempo passou e a empresa pitoresca foi ganhando espaço e incomodando de fato a concorrência. O "time laranja" assistiu a queda da VASP e, à medida em que a Varig foi se inclinando para beijar a lona, suas tarifas baixas foram aprendendo a decolar, até encontrar o conforto dos preços de mercado que sempre foram tão caros à TAM. Transformada em gigante, a Gol comprou o que restou de uma Varig que por muitos anos foi considerada uma das melhores companhias aéreas do mundo e motivo de orgulho para a aviação comercial de Pindorama. Contrariando as promessas, até agora vem mantendo a velha companhia como um conveniente fantasma do que já foi, sob a esdrúxula identidade de Nova Varig.Quem visitar o site da Gol vai encontrar, perdida num cipoal de informações, uma frase lapidar: "A Gol utiliza suas aeronaves de maneira altamente eficiente para manter altas taxas de utilização das aeronaves". Apesar da má construção e do estilo duvidoso, essa frase traduz de forma cristalina o espírito que hoje domina nosso espaço aéreo. Um espírito tão verdadeiro que, pouco depois do acidente de Congonhas, foi convenientemente retirado do site da TAM um dos "Sete mandamentos" da companhia, que aparecia em primeiro lugar na lista: "Nada substitui o lucro".Para não sucumbir ao mercantilismo desenfreado que prosperou a partir da falta de competência e de fiscalização desses órgãos cabide de empregos do governo, a TAM, única concorrente que sobrou, resolveu abandonar o idealismo visionário do fundador Rolim Amaro. Preferiu compreender e adotar disfarçadamente os métodos "revolucionários" da nova estrela do mercado. E um dos pontos principais desse novo modelo de aviação, que passou inclusive a sintonizar os interesses comerciais de TAM e Gol, foi sobrecarregar Congonhas, Santos Dumont e Pampulha. Construídos nas regiões centrais das nossas principais metrópoles, esses três aeroportos concentram o maior contingente de passageiros executivos, que voam constantemente, lotam aviões e garantem a rentabilidade das companhias.A redução do espaço para as pernas dos passageiros, agora denunciada pelo ministro Nelson Jobim, também teve grande importância, pois ajudou a abarrotar as aeronaves e torná-las ainda mais lucrativas. Também não são poucas as insinuações de sobrecarga nas jornadas de trabalho dos aeronautas, de desleixo nas manutenções dos aviões e de excesso de carga e de combustível (abastecido nos estados onde os impostos são menores) nos vôos.O pior desse modelo foi transformar Congonhas num frenético centro de escalas e conexões, que chegou a atender 700 operações diárias de pouso e decolagem e cerca de 18 milhões de passageiros/ano (média de quase 50 mil/dia). O aeroporto virou uma verdadeira panela de pressão, espalhando os reflexos de sua sobrecarga pelo resto da malha aeroviária do país. Felizmente, a maioria absoluta das operações de pouso e decolagem termina com os passageiros diante das esteiras de bagagens, ou levantando vôo para seus destinos. Mas quando a sorte muda drasticamente, temos acidentes como panes ou derrapagens, que provocam grandes sustos e acendem luzes amarelas de alerta. Ou tragédias, que matam pessoas e acendem as luzes vermelhas do desespero. (Heraldo Palmeira)
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2 comentários:
Esse é o chamado site da copia muita coisa é copia de outros site e revistas, tenham mais vergonha e produzam seus materiais. Tudo bem que o Blog como ferramenta é uma maravilha, mas por favor subam o nivel.
Não costumo rsponder a quem não se identifica, mas preste atenção, que os créditos são colocados...
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