Eu estava pensando sobre o que escrever sobre a morte de Amy e de outros cantores que morreram na, fatídica, idade de 27 anos, mas ao ler este artigo de Alex Medeiros sobre o assunto, vi que não poderia escrever melhor, e que tudo está neste excelente texto.

Não vou chamar de maldição, por dois motivos: primeiro porque não dou credo às teses de cunho místico, segundo porque a coincidência é tema batido desde o final dos anos 1970, quando o mundo pop atingiu mais de uma dezena de figuras mortas aos 27 anos.
A morte de Amy Winehouse, também aos 27, multiplicou em escala exponencial o destaque da coincidência na cobertura da mídia em todo o mundo, principalmente nas tais “novas mídias”, recheadas de blogueiros desinformados e jornalistas dísgrafos.
Pautados naquilo que os publicitários chamam de “insight primitivo”, ou seja, no impulso trivial que leva a maioria a pensar em “bolo” quando se diz “aniversário”, redatores dos cinco continentes editaram o lugar comum da tal “maldição dos 27”.
E todos se ativeram aos nomes mais famosos e repetidos, ano a ano, quando do aniversário de nascimento ou morte de alguns deles: Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain, Jim Morrison... Pouquíssimos lembraram-se dos tantos ídolos mortos na mesma idade.
O tema é tão velho quanto o rock ‘n’ roll e já foi batido anos a fio em revistas especializadas como Bilboard, Rolling Stone, Classic Rock e nas saudosas publicações brasileiras, Pop e Flor do Mal. Lembro uma matéria com 15 defuntos de 27 anos.
Diante da lembrança, decidi, então, enumerar para os leitores da coluna e do meu blag o número intrigante de 27 personalidades do ambiente artístico-musical que morreram aos 27 anos, todas de maneira brutal ou por doenças terríveis e sem cura.
Começo pelo mais fértil compositor da MPB, autor de sambas imortais e que influenciou diversas gerações e ainda hoje exerce fascínio sobre jovens compositores e cantores. Noel de Medeiros Rosa morreu tuberculoso, prestes a fazer 27 anos.
Considerado o pai do blues e fonte de inspiração de grandes nomes do rock, como Bob Dylan, Rolling Stones, Led Zeppelin e Eric Clapton, o americano Robert Johnson morreu aos 27 com uma dose de whisky envenenado, vingança de um marido cornudo.
Filho de cubano com chinesa, Fats Navarro tornou-se um dos maiores trompetistas do jazz na era de ouro, chegando a dividir com Dizzy Gillespie a preferência da audiência. A poucos dias de completar 27, morreu tuberculoso e viciado em heroína.
Alice Cooper e as bandas The Who e Led Zeppelin beberam na fonte de um dos pioneiros do rock inglês. Curtiam o som de Johnny Kidd & The Pirates. O líder com tapa-olho morreu aos 27 anos, apesar de outros registros que falam em 28 e até 30.
As baladas de Lennon & McCartney ainda não haviam consagrado a dupla quando a cena urbana e underground de Londres tinha as canções de Nick Drake embalando as noites dos pubs. Não tivesse morrido aos 27, seria um dos grandes do mundo pop.
Assim como teria sido o louro Brian Jones, líder primordial dos Rolling Stones e que ensinou Keith Richards a gostar de blues e cultuar o gênio Muddy Waters. Jones apareceu morto na piscina, boiando nas dúvidas sobre a “causa mortis” aos 27.
A guitarra e a gaita de Alan Wilson eram a essência dos blues tocados pela banda Canned Heat, uma das que fizeram a história do Woodstock. Wilson tentou duas vezes o suicídio, até que aos 27 anos conseguiu partir com uma overdose, na Califórnia.
Os anos 70 trouxeram o rock progressivo dos britânicos e também o “power pop” da turma de Alex Chilton, o líder da banda Big Star, que não teria sido o que foi sem a figura de Chris Bell, morto aos 27 num acidente de carro na cidade de Elvis Presley.
O rock inglês dos anos 60 penetrou fácil no imaginário dos jovens de todo o Reino Unido e foi essencial para o nascimento da banda escocesa “Stone The Crows”, dos irmãos Alex e Leslie Harvey, o segundo morto aos 27, eletrocutado no microfone.
Tinha um visual pra lá de lisérgico o Ron McKernan, integrante da mítica banda Grateful Dead, formada em plena explosão do movimento hippie em San Francisco. Compunha e tocava quase tudo no grupo, até morrer aos 27 de hemorragia intestinal.
Nenhuma banda tinha discos com capas tão lindas e loucas como Uriah Heep, representante do hard rock. O grupo já tinha perdido dois baixistas, quando chegou o neozelandês Gary Thain, que morreu de um choque na guitarra, em 1975, aos 27.
Nesse mesmo ano, o guitarrista galês e cantor da banda Badfinger, Peter Ham, colocaria fim à vida, aos 27 anos, após mergulhar numa profunda depressão provocada por dificuldades financeiras. Suicidou-se deixando uma filha no ventre da esposa.
Quem curte Kurt Cobain (com trocadilho e tudo), sabe que sua viúva, Courtney Love, liderou a banda Hole, formada no final dos anos 80. Deve saber também que a baixista Kristen Pfaff bateu as botas aos 27 anos, vítima de uma overdose de heroína.
Pete de Freitas conheceu o som pop ainda garoto em Trinidad e Tobago e não demorou a tornar-se um bom músico e compositor na cena cultural britânica. Foi baterista da banda punk Echo and the Bunnymen, de Liverpool, onde morreu num acidente de moto.
O romantismo e a loucura do Rio de Janeiro nos anos 60/70 não teriam sido como foram sem a presença marcante daquela linda e louca garota. Tudo girava em torno de Leila Diniz, até sua morte aos 27 na queda do avião em Nova Delhi, em 1972.
O Festival de Cannes de 2007 prestou uma bela homenagem póstuma ao cineasta romeno Cristian Nemescu, por seu talento e pelo filme “California Dreaming”. Ele morreu dentro de um táxi atingido por um Porsche, aos 27, sem ver sua obra nas telas.
Não precisou de muito tempo para a banda The Stooges se destacar na história do rock. O líder Iggy Pop e o som proto-punk marcaram época. E apresentaram ao mundo o baixista Dave Alexander, morto aos 27 de edema pulmonar provocado por drogas.
Um dos mais populares cantores do som R & B na década de 1950 foi Jesse Belvin, que também era compositor e pianista. Entre 1954 e 1955 conseguiu a proeza de vender 1 milhão de cópias de um disco. Faleceu aos 27, depois de um acidente automobilístico.
Dickie Pride foi um dos primeiros roqueiros ingleses a gravarer Little Richard e a tocar o rock clássico, nos moldes de Bill Halley e Elvis Presley. Tinha 27 anos em 1969 quando foi encontrado morto em sua cama, após ingerir comprimidos para dormir.
O negro texano Patrick Lamark Hawkins ganhou fama quando juntou-se ao irmão, Big Hawk, e formou a dupla de happer DEA (Alliance Dead End), tendo adotado o nome artístico Fat Pat. Foi abatido a tiros numa rua de Austin, com apenas 27 anos.
Poucos músicos de rock alternativo produziram tantas canções com mensagens políticas como o galês Richey Edwards, da banda Manic Street Preachers. Foi um Chico Buarque doidão, que sumiu aos 27 anos e até hoje há quem diga que jamais foi enterrado.
O americano Gram Parsons marcou seu lugar no mundo pop com a banda The Byrds, onde variava do blues ao soul, do folk ao rock. Dividiu apartamento na França com Keith Richards. Depois morreu de overdose numa cama de hotel, aos 27 anos.
O cineasta Roman Polanski nunca mais teve paz no coração depois que viveu a tragédia do assassinato da sua linda mulher, a modelo e atriz Sharon Tate, vítima da mente doentia de um hippie adorador do diabo. Foi morta aos 27, grávida de 8 meses.
Os demais ídolos que se foram aos 27 anos, já citados em excesso desde que se confirmou a “bad trip” de Amy Winehouse, não precisam de um perfil aqui neste texto, por razões óbvias. Há outros que não entraram na minha lista de 27 figuras.
Eu, que não acredito em bruxas, em deuses, em santos, em duendes, em milagres, curas ou maldições, reconheço a intrigante coincidência de tanta gente talentosa ter a vida descontinuada por tragédias, doenças e drogas. Morrer jovem jamais será uma coisa natural.

E não há mitificação, nem papo de maldição, que expliquem.