A respeito e a despeito das manifestações contra
Dilma, Lula e o PT, um jornalista italiano disse em seu blog que o
Brasil está passando por uma onda de conservadorismo. Muito
provavelmente, deve ser um expoente da extinta redação do diário l’Unità, fundado em 1924 pelo pensador comunista Antonio Gramsci.
É preciso estar cegueta pelas brumas cinzentas das ideologias
pregressas para não perceber que a sociedade brasileira está numa onda
de bom senso e decência, reação mais que natural à tumultuada conjuntura
de corrupção, crise moral e inversão de valores, tudo patrocinado por
quem não percebeu a queda do Muro de Berlim e o fracasso do comunismo.
E quando eu falo bom senso e decência, não restrinjo o sentimento
apenas para uma população acima dos “enta”, como se diz na gíria para
referência aos mais velhos. Cego é também quem não viu que a ida das
multidões às ruas é consequência de articulações virtuais na Internet e
nas redes sociais, coisa liderada por jovens estudantes.
Não se pense que a juventude brasileira de agora vai lombrar na
conversa velha de conceitos mofados no lodo da História. O Brasil está
inserido cultural e definitivamente nos trilhos dos avanços
tecnológicos, seus meninos e meninas cada dia mais envolvidos com as
ferramentas que transformam jovens em pioneiros técnicos e empresariais.
Os retrocomunistas de hoje precisam compreender que seus livros e
cartilhas já não fazem sucesso sequer nas aulas de sociologia, exceto
por alguns gatos pingados iludidos com a cantiga da perua das velhas
teses das revoluções estéreis. Em cada processo histórico, os jovens
percebem antes o azimute do amanhã. E sabem pegar as ondas, enquanto a
praia adiante representar futuro.
Quando o rock ´n´ roll lançou seus tentáculos nos anos 50 e fez do
mundo um terreno único para suas raízes, seus frutos só cresceram por
receber uma composição de adubo formada pela luz e pela energia
substancial dos jovens. O resultado disso é que o ritmo nunca ficou
velho, e se renova a cada década.
Bem antes disso, o líder comunista da Revolução Russa, Vladimir
Lênin, percebera a ordem natural da História e cunhou uma frase que em
1965 foi burilada no Brasil pelo anarcopublicitário Carlito Maia,
ficando assim “o futuro pertence à jovem guarda porque a velha está ultrapassada”.
Apesar de descontextualizada da luta operária soviética, a frase –
cunhada para ilustrar o estouro musical num programa de auditório da TV
Record – profetizou uma revolução de costumes comandada pelo rei Roberto
Carlos, seu primeiro-ministro Erasmo e milhares de súditos, todos
extasiados pelo espírito beatlemaníaco que assombrava o mundo.
A Jovem Guarda foi no Brasil, no sentido lúdico, o maio 68 dos jovens
franceses em suas barricadas a seguir o grito de guerra de Daniel
Cohn-Bendit e sua turma. Por alguns equívocos de leitura do contexto e
pela ilusão de pensar que arte e socialismo se combinam, a cultura pop
pagou caro pela caretice dos filósofos marxistas.
Décadas depois, sempre que o mundo passa por transformações
substanciais para melhor, é comum perceber que a mão e a alma da
juventude estão inseridas no contexto. Mudanças para pior, como guerras e
ditaduras, são invariavelmente protagonizadas pela velha guarda
teimando em manter seus velhos conceitos.
O que é essa panaceia da esquerda latina exumando o fantasma de
Bolívar ou a cantilena operária de PT e PCdoB no Brasil, senão a
tentativa de impor a ideologia velha e carcomida que a História
enterrou? Beberia na fonte de Belchior para imaginar que “você pode até dizer que eu tô por fora ou então que eu tô inventando”, e ainda no poeta cearense responderia “mas é você que é mal passado e que não vê que o novo sempre vence”. Os jovens no Facebook estão fundindo a cuca dos revolucionários de ontem.
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