sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
O broadcast da galera
Não disponho de condições filosóficas para simpatizar essas tantas campanhas publicitárias contra a pirataria. Genericamente falando, acho que vivemos num contexto mercadológico em que todos tiram uma lasquinha do fisco, não apenas os ambulantes com seus produtos chineses, paraguaios ou caseiros.O Estado, então, esse não tem a menor moral para sugerir bom comportamento fiscal a quem quer que seja. Os muitos impostos que arrecada, e que deveriam ser aplicados em prol do bem-estar da coletividade, são divididos e consumidos nas mesas de negociação e contas da corrupção política.Encaro com achincalhe as mensagens e apelos de certos setores que combatem a indústria das cópias. Como milhões de cidadãos do mundo, sou um quase compulsivo consumidor de coisas genéricas. Não me preocupa nenhum um pouco se Hollywood ou seus sindicatos sofrerão prejuízos com os DVDs que invadem as ruas do planeta.Há outras coisas muito mais importantes sendo copiadas e no entanto não aparece nenhuma autoridade constituída para combater. No Brasil, por exemplo, a atividade política foi tomada por gente desqualificada, sem espírito público, os partidos não diferem das quadrilhas do tráfico nos morros cariocas e penitenciárias paulistas.No serviço público, sumiram aqueles funcionários que compreendiam o real papel de zelar pelos interesses e patrimônios da população. O sonho de quase todo mundo é se locupletar nas indicações politiqueiras, nos fartos salários comissionados, nas estratégicas funções de assaltar o erário. São genéricos assim que de fato prejudicam a sociedade e seu desenvolvimento.Nos últimos meses, outro setor que tem vomitado verborragia publicitária contra a suposta pirataria é o das televisões abertas. E o mais risível é a cara-de-pau da mensagem em decantar uma programação ridícula como se fosse salutar ao Brasil. Com o avanço da tecnologia e principalmente com o advento da era digital, as TVs temem um processo similar aos sites de internet.Ou seja, é fato que ficará cada vez mais fácil alguém criar uma televisão ou emissora de rádio, como já acontece a zil anos com os jornais. Qualquer cidadão do mundo pode colocar em circulação um jornal. "Mas televisão é concessão pública", diria um espertinho filiado à Abert, na defesa do seu nicho. Pois é, taí uma missão para os poucos homens de espírito público: acabar com essa estória de concessão e abrir de vez o mercado para todos. Prefiro mil vezes uma TV pirata, instigante, experimentando novas linguagens, do que esse modelo escroto com suas novelinhas terceiro-mundistas, seus auditórios chulos e emburrecidos e seu jornalismo de vitrine.Vivemos a era da democratização da informação, da opinião, do entretenimento. Já não são apenas os jornalistas que detêm o acesso aos fatos e suas interpretações. Os blogs de artistas, engenheiros, advogados, arquitetos, médicos, políticos, estudantes, estão aí conquistando leitores e até pautando a mídia tradicional.É preciso aprender a conviver com as facilidades da ciência, encarar novos parâmetros de liberdade e cidadania, novos conceitos do mercado globalizado. Que venham as TVs e rádios piratas da era digital, espanando o pó borolento das grandes redes com seus artistas farsantes, suas falsas celebridades e sua filosofia barata de alienar a patuscada.
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