Tijolo por tijolo numa caricatura trágica. Assim foi, é e continuará sendo a vida prática de algumas figuras políticas em ritmo de pijama. Em Cuba, é mentira que a única evolução foi a doença de Fidel. Prostrado numa enfermaria, o espantalho comunista evoluiu da verborragia oral para a escrita.Fora do governo, já entregue ao irmão Raul, Fidel Castro quer manter-se no poder pela estratégia de um blogueiro sem PC (o computador, ou será o partido?), postando recados e teses que servem como aparelhos clínicos a mantê-lo ativo e respirando o velho e surrado paternalismo autoritário na ilha.Está publicando tijolos textuais na imprensa oficial, variando nos temas e no tirocínio ideológico, mas experimentando assuntos da moda como o aquecimento global, o que mostra que o comandante, mesmo no isolamento médico, tem mais acesso à informação do que seus presumíveis compatriotas livres.Vomitar tijolos é uma prática antiga, acho eu que inspirada nos “décalogos” esculpidos a fogo no alto do Monte Sinai. Há controvérsias budistas e tupis, no entanto. Na Revolução Francesa, um craque na olaria literária foi Jean-Paul Marat, talvez o primeiro militante misto de intelectual orgânico com intelectual tradicional, como dizia Gramsci.Marat só parou de imprimir suas idéias quando a faca de Charlotte Corday fez aparas mortais em suas vísceras. A moça acabou perdendo a cabeça por isso, se bem que perder a cabeça é próprio de muitas mulheres. E isso fica para outro texto. Os atuais tijolos de Fidel me lembram aqueles de Brizola, veiculados na imprensa dos anos 80 como matérias pagas.Os quilométricos rascunhos do caudilho gaúcho valiam mais para a história do que suas ações no gabinete do governo carioca de então. Antes dele, o periculoso Carlos Lacerda destruía biografias no próprio jornal, mesmo com o filtro do copidesque de Aluizio Alves. O que movia essa turma era o mesmo combustível que move agora Fidel, apesar do cubano disfarçar no etanol: poder e glória.A glória que dificilmente vai guardar um capítulo para o bufão Cesar Maia, o prefeito virtual do Rio de Janeiro. Na olaria do César já há verborragia suficiente para encher um templo romano. Ou maia. Mas os súditos cariocas já sabem que aquilo que ele diz não se escreve. O alcaide do DEM passa o dia postando, prostrado num monitor, como versão sadia do cubano.Nos tijolos de Fidel, a ecologia ganhou status de camarada. O mais longevo ditador da história contemporânea se transformou num Al Gore moribundo, guardando as últimas forças, física e política, para espinafrar o eterno inimigo. Acusou os EUA, com farpas no Brasil, de provocar a fome de 3 bilhões na corrida pelo biocombustível de Lula.Alguns dos nossos políticos começam a aprender a técnica dos tijolos. Vez em quando um artigozinho aqui, uma incursãozinha na “generosidade” da Folha, na “cortesia” de O Globo. Em terra de incultos, de disléticos, político esperto se arvora de oleiro verborrágico a expelir seus tijolinhos, mesmo sem perceber a imensa parede que lhe bloqueia o bom senso.
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