sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Brad Pitt existencial
Quem está quase com o pé na cova é Patrick Swayze, que assim mesmo, valente, não solta as rédeas da vida. Mas quem anda impressionado e absorto com a morte, pensando na desgraçada o tempo todo, é o bonitão Brad Pitt.
O marido de Angelina Jolie vive assustado com a quantidade de fantasmas pairando em torno dele nos últimos meses. Só não atingiu ainda o estágio de Ariano Suassuna, vendo a moça de manto negro, rubro e amarelo, rufiando em pedras sertanejas.
O que está levando Brad a perder preciosas horas refletindo sobre sua própria mortalidade não é o contexto bio-filosófico da personagem Benjamim Button, que interpreta no mais recente filme, e sim os defuntos reais em torno da obra de ficção.
As mortes de algumas pessoas ligadas a ele, a Jolie ou mesmo ao filme, levaram o ator a manter uma constante reflexão sobre seu fim, ao ponto de tornar-se quase uma paranóia. Nos últimos meses, morreram várias figuras relacionadas com ele e com o filme.
Primeiro morreu a mãe de Angelina, quando as filmagens de "O Curioso Caso de Benjamim Buttom" completaram um mês. Depois faleceram o pai de David Fincher, o diretor da película, e a mãe de Eric Roth, o roteirista.
Tudo isso se juntou ao apelo do roteiro, baseado num clássico do escritor F. Scott Fitzgerald, que trata do envelhecimento, narrado numa seqüência cronológica e metabólica enviesada. A personagem de Pitt nasce velha e vai rejuvenescendo.
Em entrevista ao diário londrino "Daily Telegraph", o ator de 46 anos disse que "ao terminar as filmagens, cheguei à conclusão que o tempo passa muito rápido". Intrigado com uma "sinuca existencial", Pitt não sabe se está na metade ou no final da vida.
"Não sei se ainda tenho um dia de vida ou se me restam dez ou mais quarenta anos; só sei agora que tenho que viver momentos sem mesquinharias, amarguras ou ataques de preguiça", afirmou, como um piloto que acaba de religar as turbinas.
Uma das suas principais preocupações tem sido afastar as pessoas que não são importantes para sua família. "Angelina e eu estamos juntos porque nos completamos; não creio que estou perdendo tempo, porque estou acompanhado de pessoas que amo realmente".
Envolto num furacão de pensamentos, Brad Pitt tem repetido à imprensa o relato que ouviu de um amigo que foi funcionário de um asilo aonde viviam pessoas que fizeram sucesso em juventude. Impressionou-o os diálogos dos velhos.
"Em seus últimos dias, aquelas pessoas não falavam dos êxitos profissionais, dos prêmios conquistados, dos livros escritos, e sim dos familiares e amigos que amaram; isso é muito significativo", destacou o ator.
Disse que ele e a mulher vão aproveitar mais o tempo que for possível planejando a vida em família, inclusive na adoção de mais filhos, além dos atuais seis, sendo três deles adotados em diferentes países, Vietnã, Etiópia e Camboja.
Brad Pitt também se dedica a obras beneficentes como o combate à pobreza e à fome nos países pobres. E já investiu uma gorda soma de dinheiro na reconstrução dos bairros de New Orleans, a cidade americana devastada pelo furacão Katrina, em 2005.
A despeito da influência imediata que perdas recentes provocam em qualquer um, a angústia em Brad Pitt é didática. O mundo vive a apologia do inútil e quando um cara, rico, bonito e influente prega antigos valores, renovam-se as esperanças na vida.
Uma pena que tal solidariedade com o humano brote no terreno do medo da morte, e não por vias naturais de uma consciência adquirida no cotidiano. Troquemos a Caetana por Caetano, sabendo que "não temos tempo de temer a morte". Como dizia Fernando Pessoa, " a morte é a curva da estrada / morrer é apenas não ser visto".
A. Medeiros.
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