O Futebol não é, como quer a sociologia retrô, a cachaça do povo, tal qual o ópio religioso. Mas o jornalismo esportivo, este sim, usa overdose de mentiras para driblar o senso da massa. E como a própria História, o jogo acaba se repetindo como farsa.
A realidade do futebol em solo tupiniquim tem a consistência da indústria do marketing que vende produtos biodegradáveis como se fossem eternos. Na força da grana que ergue e destrói coisas belas e ridículas, vivemos num bazar de falsidades. A decantada e pantomímica volta do jogador Ronaldo Nazário, com suas arrobas de Rei Momo a rasgar-lhe o tecido do corpo e da camisa, é tão somente um dramalhão midiático que envolve bons trocados transformados em assessoria de imprensa. E quando os agentes desse teatro grotesco abrem a boca vomitando loas e acrescentando juízo de valor, seguindo o roteiro e a pauta pré-estabelecidos, milhões de incautos abrem o coração, como fiéis diante do esperto pastor em sua eloqüência bíblico-decoreba.
Com a bola nos pés, Ronaldo interpreta no papel de vilão de si mesmo uma espécie de lutador de sumô tentando em vão realizar um “padedeux” na superfície de uma nuvem. Sua agilidade é a visão aberrante de um rinoceronte abrindo nozes com o chifre. Está mais do que claro, para aqueles que não consomem o jornalismo fast food desses tempos em que a vida real é tratada na TV como um reality show, que Ronaldo busca na ilusão de um retorno a borracha que apagará seus problemas extra-campo. Pelo menos para isso demonstra fôlego, mormente a capacidade monetária para sustentar a campanha travestida de noticiário que tenta limpar sua imagem de craque e de bom rapaz. No fundo, ele e a mídia sabem que já não é nem uma coisa, nem outra.
O pequeno estádio de Itumbiara foi o picadeiro ideal para o espetáculo mambembe de ontem, só faltaram a grande lona esburacada a cobrir o gramado e vendedores de maçã do amor circulando entre os espectadores, todos na mesma cegueira corintiana. Ronaldo, Denílson, Túlio Maravilha, Ávalos e o goleiro Max.
Desde os tempos da seleção brasileira de máster, comandada pelo Luciano do Valle, não se via tantos veteranos numa mesma cancha, obviamente sem aquela outra cancha da gíria boleira. A farsa explodiu nas manchetes, sem qualquer preocupação com o disfarce editorial. “Ronaldo acerta todos os passes”, estampou o UOL; “Ronaldo volta a ser jogador de futebol”, disse a Folha; “Ronaldo cruza, a bola entra, mas não valeu”, cuspiu o Bom Dia Brasil.
Pelo amor dos deuses! Deram férias ao bom senso, demitiram o ombudsman? Seria o fim da picada e do picadeiro se um cara que já foi chamado “fenômeno” tivesse esquecido o fundamento do passe. E até as “ronaldinhas” entenderam o trivial na jogada anulada.
O Ronaldo que hoje se arrasta como um trator pisoteando grama, talvez não perceba que ao forçar uma realidade efêmera esteja esmagando na curta memória dos brasileiros a breve, mas bela, carreira de quem já foi o completo oposto dessa ridícula piada.
Alex Medeiros.
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