Pensei em escrever sobre o ovo da Páscoa depois das filas que vi no
supermercado lotado. Nem lugar no porão para estacionar o carro o
cristão tinha. Uma multidão. Nas filas do chocolate e dos pescados
também. Incrível essa convenção de que se tem de comer bacalhau na
Semana Santa e ovo de chocolate na Páscoa. No começo dos tempos não
havia chocolate e se comia mesmo era ovo de galinha. Depois dessas
antigas festas da primavera apareceu o cristianismo, o ovo de galinha
continuou sendo pintado e reverenciado e, então, bem mais tarde
inventaram o chocolate. Hoje tem ovo de chocolate que custa mais caro do
que um quilo de bacalhau importado da Noruega, daqueles de três dedos
de lombo. Famílias inteiras preferem se lambuzar com o chocolate. É
chique.
Voltando do sofrimento do supermercado (todos falando nos
seus celulares), bati na porta da web procurando sobre o ovo de
Páscoa, mas caí na página da Folha de S. Paulo e vi lá a manchete:
Banco Central eleva previsão de inflação para cima de 5% em 2013 e
2014. Aí juntei a informação com a irritação da presidente Dilma
Rousseff, anteontem na África do Sul, onde participava de uma reunião
com os companheiros da China, Índia, Rússia e África do Sul. Deixei o
ovo de lado e procurei saber o que é que estava acontecendo com a
presidente. Encontrei a resposta na crônica de Eliane Cantanhêde, também
da Folha. Confira o que ela escreve e se prepare para a inflação.
Título da crônica: O ato falho de Dilma:
Pelo visto e pelos
relatos da imprensa, a ida da presidente Dilma Rousseff à reunião dos
Brics, em Durban, foi cheia de percalços. E de tropeços.
Dilma
levou chá de cadeira do presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Depois
de quase uma hora e meia esperando, com seus ministros, imagine-se o
humor da presidente. Ela voltou para o hotel e foi à abertura do
encontro, mas dispensou o jantar. Não é trivial. Será que alegou uma dor
de cabeça danada?
Ontem (quarta-feira), Dilma disse em
entrevista coletiva que não concorda com combate à inflação à custa do
desenvolvimento. Depois, diante da reação de espanto e crítica, disse
que não disse. Mas é o que ela pensa, certo?
Vejamos as frases da
presidente: 1) Não concordo com políticas de combate à inflação que
olhem a questão da redução do crescimento econômico; 2) Esse
receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é
complicado. Eu vou acabara com o crescimento do país?
O mercado
deu um pulo. Interpretou que Dilma estava assumindo a leniência com a
inflação, o que, a esta altura do campeonato, é quase uma heresia.
Nesses poucos mais de dois anos, o combate à inflação não chega a ser
prioridade. Mas há coisas que até se pensam, mas não se dizem.
Principalmente presidentes.
Pelo Blog do Planalto, Dilma tentou
consertar. Acusou que sua fala foi manipulada por agentes do mercado
financeiro e empurrou o abacaxi para o presidente do BC descascar. Ele é
que mostrasse por A mais B que, como disse Dilma na nova versão, o
combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente.
Cá
entre nós, a frase original de Dilma tem um fundo de verdade e combina
com a ação do seu governo, já que a inflação ultrapassa o centro da meta
e se aproxima do teto. E o pior é que o Brasil não tirou nota baixa na
inflação para poder tirar 10 no crescimento. Com o pibinho de 0,9% em
2012 (bem abaixo dos Brics), não brilhou em nenhum dos dois.
Feliz Páscoa!
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