Já havia algo de diferente apontando um novo azimute
para a história do processo legal e das ações criminais no Brasil
quando o ministro Luis Roberto Barroso fez a leitura do seu voto, na
sessão do Supremo da quarta-feira, que definiu o início das prisões.
A peça do “novato”, como o batizara Marco Aurélio de Mello,
lembrou-me Gilberto Gil em 1976, preso por porte de maconha, respondendo
à imprensa sobre se já tivera problema semelhante. “Eu não tenho problema com a maconha, só com a Polícia”.
A partir da geração dele, de Gil, ser preso por fumar um baseado
substituiu em ilustração policial a figura do ladrão de galinha. No país
dos grandes assaltos ao erário, eram os autores de pequenos deslizes
que lotavam cadeias e aceleravam sentenças.
O voto de Barroso acabou sendo um divisor de fumaça ilegal e de
cacarejo jurídico, mostrando que os assaltantes de galinheiro e os
adeptos de um tapa no finório são, sim, infinitamente menos criminosos
do que aqueles que metem a mão no bem público.
“Temos milhares de condenados por pequenas
quantidades de maconha, e pouquíssimos condenados por golpes imensos na
praça. Para ir preso no Brasil, é preciso ser muito pobre e muito mal
defendido”, escreveu o magistrado na sua peça.
As imagens dos bandidos do PT chegando na Polícia Federal, por mais
que seja para cumprirem pena com temporalidade abaixo daquela desejada
pela sociedade, são o retrato de uma mudança na prática que Barroso
chama de “sistema seletivo e de castas”.
E decretar as prisões na data nacional do Dia da República, como que
desmanchando a pantomima esquerdopata do dia anterior na ridícula e
mórbida posse póstuma do pó que sobrou de Jango, foi um tiro a la Ringo
nos autores da farsa, os amigos dos bandoleiros.
Aliás, depois do teatro funerário (ainda bem que FHC esteve ausente,
não pega bem a um estadista) os brasileiros já não podem fazer piada da
crença portuguesa no retorno do rei Sebastião, sumido no século 16,
poucos anos após a descoberta do Brasil.
E se a oposição ao governo do PT tivesse coragem de ser oposição
também no sentido ideológico, cabia muito bem uma picardia anárquica de
encenar uma deposição dos restos de Jango pela urna mortuária dos restos
do marechal Humberto Castelo Branco.
Mas, voltando ao dia histórico de ontem, faz-se urgente e
providencial festejar o encarceramento daqueles que executaram o mais
vil e ousado golpe contra a República e o povo brasileiro. Os futuros
inquilinos da Papuda, arautos do chefe papudinho.
Que a condenação em fatias seja coroada com o resto da sentença pelo
conjunto dos crimes, e que a decisão do STF, como diz o hino
republicano, seja um pálio de luz desdobrado que venha remir a nação dos
mais torpes labéus praticados por essa gente.
O capataz Zé Dirceu está voltando para onde nunca deveria ter saído
no período de terrorismo juvenil. E o dissimulado Zé Genoíno vai
experimentar uma hospedagem que evitou no passado por premiação suja. O
Brasil já não prende apenas um Zé qualquer.
Enquanto os corruptos adentraram as celas, os militantes doidivanas
saíram às ruas em vigílias noturnas de gatos pingados miando palavras de
ordem do tempo do ronca, contra a ditadura, contra a Globo, contra a
Folha de S. Paulo, contra a burguesia.
Nas carrancas exibidas pelas câmeras de TV, figuras hostis e de
semblantes apopléticos, latiam chavões ultrapassados oriundos das
passeatas dos anos 1960. Uma gente vagabunda que os semelhantes na
internet tratam como “população solidária ao PT”.
Que dia lindo foi o 15 de novembro de 2013, um dia para as atuais
gerações guardarem na lembrança como aquele em que a Justiça decretou e a
Polícia cumpriu a prisão de políticos corruptos. Creio que o pó de
Castelo soprou no limbo a poeira de Goulart.
Alex Medeiros
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