Fidel Castro não participou ontem dos festejos pelos 50 anos da revolução cubana. Há dois anos e meio isolado do povo e do mundo, o líder do movimento que implantou o regime comunista em Cuba em 1959, apenas enviou mensagem aos compatriotas.
O moribundo dos infernos falou ao jornalista argentino Eduardo Tagliaferro, numa entrevista pouco ou nada divulgada na imprensa brasileira, mas aí está.
Tagliaferro - A via militar era a única opção para derrotar Batista?
Fidel - Em um momento, quando já estávamos em Sierra Maestra e não éramos mais do que 200 homens, os militares ameaçaram com um golpe de Estado. Foi quando Batista pensava realizar algumas promessas democráticas e chamar os partidos políticos para o diálogo. Nós seguíamos atentamente seus movimentos e avisamos aos militares que seguiríamos com a guerra. Tínhamos muito apoio da população.
Tagliaferro - Vocês compartilhavam essa decisão com os partidos políticos?
Fidel - Claro, até o próprio movimento conspirava com os soldados. Eles nos viam como nós os víamos, todos contra a ditadura de Batista. Nõs éramos um pequeno exército em desenvolvimento que um dia derrotaria um grande exército.
Tagliaferro - Que características tinham os primeiros combatentes?
Fidel - Quando desembarcamos sofremos um golpe muito duro. Dos 82, havia uns 40 que sabiam comandar uma coluna. Não havia militares de academia, mas todos sabiam combater. A última ofensiva que fizeram contra nõs, tinham 10 mil homens, com tanques, aviões e artilharia pesada. A escola da maioria era o próprio combate, poucos já tinham disparado um só tiro antes contra um inimigo real. Meu papel era de um treinador.
Tagliaferro - Que papel tiveram Camilo Cienfuegos e Che Guevara na luta armada?
Fidel - Camilo se incorporou mais tarde. Che desde o princípio. Che era muito aplicado, um exímio atirador. Muito responsável e disciplinado. Ele recebeu umas aulas de um espanhol republicano chamado Vayo, mas o que ele aprendeu de Vayo não lhe serviu muito em Sierra Maestra. Che e Camilo aprenderam mesmo na experiência da luta. O Che tinha entre outros valores o fato de ser muito valente e audacioso. Sempre que era preciso um voluntário para um ataque mais ousado, ele era o primeiro a se oferecer. Camilo era de um humor excepcional, como combatente sabia lutar mas não tinha a frieza do Che, que sonhava fazer a mesma revolução na Argentina.
Tagliaferro - Como foi a ofensiva final?
Fidel - Durou 74 dias. Durante 35 dias avançamos sobre o inimigo. Não divulgávamos notícia das vitórias, somente três dias depois para não revelar nossas posições. A guerra se acaba quando você derrota as tropas que estão em operações. Nessa ofensiva tivemos 50 baixas e eles mais de mil, e fizemos uns 500 prisioneiros e tomamos 600 armas. Depois, as colunas comandadas por Che e Camilo invadiram o centro do país.
Tagliaferro - Como foi o 1 de janeiro de 1959?
Fidel - Em 28 de dezembro de 58 se reuniu comigo o general Cantillo, que me disse: "Sabemos que perderemos a guerra, como poremos fim?". Propomos que sublevasse o regimento de Santiago de Cuba, que em troca faríamos um movimento cívico-militar. E impomos três condições, que não haveria golpe de Estado, que nos ajudasse a derrubar Batista e que não fizessem negociações com a embaixada dos EUA. Antes do amanhecer do 1 de janeiro, despertei com a notícia de que havia um golpe militar na capital. Pela Rádio Rebelde convocamos a greve geral e decidimos marchar com força. Todas as rádios começaram a transmitir em cadeia com a Rebelde, que só tinha 1 kw. Che já havia tomado Santa Clara e os soldados começaram a se entregar e aderir à marcha.
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