Retirei este artigo do Jornal de Hoje, escrito por A. Medeiros. Ele sintetiza bem o que penso sobre o nosso futebol e nossos CRAQUES e "craques".
Sou um cara com pouquíssimas dúvidas naquilo que acredito. Adolescente, aprendi que a História é metade fato e metade versão, escrita no passado pela pena dos vitoriosos e manipulada na modernidade pela superficialidade e interesses da mídia.
O mundo político é repleto de mentiras travestidas de contexto histórico. As religiões são terrenos férteis para a supervalorização dos mitos, eternamente confundidos com realidade e legitimados na ignorância dos povos “per ominia secula seculorum”.
E eu já nem dou importância a tudo isso, me conformo em remar contra a maré, até cumprindo orientação de Seu Cleodon, meu pai, que me indicando caminhos dizia para tomar sempre o rumo contrário à maioria, historicamente burra, como queria o Nelson.
Das mentiras e sectarismos do mundo, os únicos que me dão estímulo a combater, não me importando os moinhos e cabeças de vento pela estrada, estão montados e estabelecidos nos falsos sítios demarcados pela imprensa esportiva brasileira.
A trajetória e as estórias do futebol no Brasil, com exceção dos nossos verdadeiros gênios, são uma coleção de invenções e cópias, mal vendidas na lábia aos incautos torcedores, desprovidos de senso crítico. Ao longo dos anos, consolidaram as mentiras.
Sem importância no contexto da comunicação mundial, isolada no quintal que é a América do Sul, a imprensa tupiniquim levou décadas manufaturando informações e fatos dos campos europeus para erguer uma catedral de mitos por aqui.
Escondeu a supremacia do futebol uruguaio nas duas primeiras décadas do século XX e o domínio argentino entre os anos 30 e 50, fatos restritos aos livros que são lidos por uma minoria. Com o advento Pelé, formou-se um escudo contra qualquer semelhança.
Para vender o tempo todo a infalibilidade do rei (que não tem culpa por isso), sacrificou-se até o primeiro brasileiro a atingir 1.000 gols, Arhur Friedenreich, que pagou o preço pela omissão de outros prodígios como Bican, Puskas e Eusébio.
Na aurora profissional do nosso futebol, que chegou aqui com duas décadas de atraso em relação à Argentina, Uruguai e Colômbia, nossos jornais e rádios trataram de copiar o que ouviam e viam na Europa. Os apelidos dos craques viraram moda na chupada.
Se o comandante uruguaio do bi-campeonato olímpico era chamado “Maravilha Negra”, logo o mesmo termo foi emprestado a Fausto, nosso primeiro preto craque em solo do velho mundo. O malabarismo do argentino Moreno foi transferido a Leônidas.
É que muito antes do brasileiro acertar sua “bicicleta” pelo Flamengo e repeti-la na Copa de 1938, o hermano já fazia isso, gols de voleio e bicicleta, e encantava platéias pela França, Itália e até pelo Brasil. Moreno executava as embaixadas hoje feitas por Ronaldinho Gaúcho.
Até o epíteto de “Homem Borracha” para Leônidas (que, diga-se, era um craque) foi uma ficção plantada como fato por nossos correspondentes na França. Quem já tinha esse apelido nos anos 20 era o goleiro russo Trusevich, do Dínamo de Kiev.
Galvão Bueno era menino buchudo quando Di Stefano chegou na Espanha e foi batizado como “O Fenômeno” após deixar estupefatos os curiosos torcedores de Madrid e de Barcelona. Venderam a reprise com Ronaldo como se fosse “avant-première”.
No caso da proteção ao feito de Pelé, foi graças a Romário que enfim uma farsa foi detonada. Com os mil gols do baixinho, a mídia patriótica teve que resgatar a façanha de “El Tigre” Friedenreich e também aceitar outros goleadores, como Flávio, do Inter.
É difícil desmontar mentiras e meias-verdades da nossa mídia esportiva em devaneio. Há muito que o cronista Paulo Mendes Campos sentenciou que a ignorância e farsa no meio era pela ausência de uma “semana de arte moderna”. Falta senso crítico.
Eu não troco um parágrafo do mestre Tostão ou um post no blog do Juca Kfouri por uma análise, uma grande reportagem ou um livro de um crítico de futebol qualquer das redações do Brasil. São estes senhores quem mitificam o comum, o trivial.
São eles quem enaltecem um amistoso como aquela goleada em Portugal e a vitória na Itália em Londres e esquecem de aprofundar as avaliações na hora do “pega pra capar”. Tanto que Didi avisou a todos: “treino é treino, jogo é jogo”. Mas a estupidez não os deixa ver.
Encerro dizendo que o gol de Robinho foi bonito, como foram os gols, ontem, de Messi, pela Argentina, e David Villa, pela Espanha. O problema é que todos jogaram amistosos, e o brasileiro levou um ano e quatro meses para jogar bem de novo. E um tempo só.
A última boa apresentação de Robinho havia sido em outubro de 2007, contra o “periculoso” Equador, quando driblou um zagueiro que a História já esqueceu. Depois vieram a reserva no Real Madrid, as vaias da torcida e a demissão, até o M. City.
Quem freqüentou o Juvenal Lamartine e o Castelão entre os anos 60 e 70, sabe distinguir a diferença entre Alberí e Icário, Marinho Apolônio e Izulamar. O jogador comum faz um belo gol de vez em quando; o craque faz toda semana. Como Lionel Messi.
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