Esta não é uma realidade apenas de Natal, mas de todo o Brasil, variando, no máximo, o estilo "musical".
Por Ugo Vernomentti
Um cartaz maior que um jornal tamanho stand está afixado nas paredes de alguns postos de gasolina de Natal, principalmente naqueles que dispõem de lojas de conveniência. Avisa que é proibido por Lei Municipal ligar equipamentos de som além do suportável.Mais produzido do que noiva de matuto, um mauricinho lambe o sorvetinho ao lado da sua Pajero preta, reluzente feito um pão doce ao sair do forno. As portas todas escancaradas inundam o quarteirão com um forró típico do seu nível de intelecto.Ao seu lado, mais largadão, um amigo sorve a cerveja em lata, seguindo o ritmo do pezinho do amigo, ambos quase rebolando de frente para o outro. Uma cena digna de um faroeste modernoso do cineasta Ang Lee. Ou uma novelinha da Globo.Minhas filhas e suas amigas, todas das tribos do rock 'n' roll, costumam dizer que não botam a mão no fogo por esses rapazes que aceleram carrões adaptados como uma miniatura de trio elétrico. Ainda mais quando vestem bermuda com sapato e meia.Eu juro que não compreendo bem os conceitos da juventude desse terceiro milênio, mas quero crer que as meninas estão com uma certa razão. Não pega bem um varapau bem nascido sair por aí ladeado de um amiguinho a ouvir um forró a mil decibéis.Uma outra garota, universitária e já militando no mercado publicitário, me disse outro dia que está ficando cada vez mais difícil encontrar um carinha de verdade nas baladas de forró e axé music. Achei que ela não procurou direito, não transou bem a vitrine.Mas ela me interrompeu, peremptória, afirmando como se defendesse uma pesquisa de mercado, que a coisa anda mesmo desmunhecada entre os meninos bombados das noitadas bregas. Os músculos estão invertendo a libido (a tese é dela, a universitária).Nessa confusão de tese e tesão, lembro que alguém já disse aqui que avança no Brasil a quantidade de "garotinhos queimando a rosinha", trocadilho emprestado dos dois governos seguidos no Rio de Janeiro, a terra da piada pronta e da picardia fast food.Não pode girar bem da cabeça, ou provavelmente haja explicação no âmbito da psicologia ou ainda no nível de testosterona, um cidadão acima dos 15 anos que transforma o carro numa caixa de ressonância ambulante. Ainda por cima com música ruim.Além dos problemas inerentes aos impulsos sexuais em confusão, há também um forte componente da ignorância esférica nascida em casa. O mauricinho assexuado imagina que o mundo pertence ao "painho" e à "mainha" dele, uma extensão do seu quarto.Quando criança, acostumou-se a ver a mãe fazer fila dupla na porta do colégio para o nenê descer. Não há coisa mais besta e brega do que uma mãe parando um carro na frente de uma escola. Tudo atrás dela é invisível, só importa sua falta de educação.O mauricinho cresce entendendo o mundo pela ótica da mãe, legitimando a velha escola da psicologia que definiu a mãe como a fonte das neuroses. Depois, já adaptado aos poderes do pai, o filho da mãe sai por aí feito barata tonta. Ou como uma borboleta.Natal pode muito bem - ou muito mal - ser considerada a capital da ausência de cidadania. A ignorância e a má educação são expostas diariamente no trânsito, com carros em cima das calçadas, filas duplas nos colégios e meninões brincando de carrinho com seus carrões.
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