Cada uma mais bela do que a outra. As fotos das gatas na capa do portal G1 sugere um book desses de agências de modelo. Só quando lemos a manchete e o sutiã da matéria, percebemos tratar-se de meninas comuns, rostos da cena urbana carioca e paulistana.
Uma empresária de 24 anos, com olhos esverdeados do quebra-mar de Ipanema; uma estudante de 23, sorriso largo e perigoso como o veneno do seu signo escorpião; uma publicitária de 28, de uma beleza saída dos anúncios da Victoria Secrets.
As moças têm em comum a ausência de namorados e a disposição de ir às ruas do Rio de Janeiro e São Paulo para encontrá-los, convocá-los a sair do esconderijo. O que elas querem são queles namorados dos tempos da poesia de Carlos Drummond de Andrade
.Lendo a reportagem do G1 e vendo as lindas meninas na aflição amorosa, creio que estamos entrando num novo estágio da sexualidade urbana, num retorno ao romantismo dos tempos da bossa nova e do rock ‘n’ roll que havia se degenerado nos anos 80. Parece que o feminino representado na passeata que as garotas cariocas e paulistanas organizam, refuta a máxima de uma geração que pregou o amor do tipo “ficar”, aquela coisa sem compromisso emocional, presa apenas aos prazeres da carne, pura e simples.
Elas estão agora subindo pelas paredes, descendo ladeiras em busca de um namoro de verdade. Aquele namoro da crônica drummondiana, composto de “adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia”. O príncipe dos poetas escreveu bem antes da moda do “ficar”, como se fosse um alerta ao que estava por vir além dos amores hippies dos anos 60; uma profecia recuperando os beijos de cinema, reeditando o suor frio no abalroamento dos olhares.
Há um sinal de esperança na iniciativa das meninas em fazer a “Passeata dos Sem Namorados”. Um movimento que não invadirá patrimônios de ninguém, mas tão somente disposto a permitir a invasão dos corações em aflição, das almas em solidão.
Já estava em tempo das mulheres cansarem da temporada que passou. Nada de “ficar”, chega de amores instantâneos, prazeres self-service, paixões descartáveis e encontros com prazo de validade pré-estabelecido. Elas querem resgatar os namorados, mas antes precisam recuperar a cultura romântica do passado, descobrir – como disse Drummond – que a missão de arranjar namorado não é fácil, como foram fáceis todos estes anos os “carinhas”, os amantes, as transas, os paqueras, os quebra-galhos.
Na reportagem do portal G1 já é possível identificar um sentimento de tempo perdido nas palavras das meninas. Uma delas diz que nunca teve um namoro verdadeiro porque é preciso muita energia na relação, e nunca apareceu quem merecesse o investimento. Para arrumar namorado, segundo o poeta, é preciso “intenções de quermesse em seus olhos”, sair por aí bebendo “licor de contos de fada” e andar “como se o chão estivesse repleto de sons de flauta”. Namorar, para Drummond, é “enlou-crescer”.
A “Passeata dos Sem Namorados” espera reunir, diz o G1, mais de mil pessoas no Rio e em Sampa. É pouco? Acho que é. Mais já é um começo. Ou um recomeço. É um movimento na contramão da caretice política que envolve as passeatas, e ainda tem uma grande vantagem em relação aos reclames feministas, posto que na cabeça do movimento há a beleza de jovens mulheres buscando um amor que não exige ideologia e nem posições sexistas.
É só uma passeata, curta e bela, como o luar dos namorados.
P.s. Vou passar uns dias em João Pessoa, namorando a mesma mulher com quem casei há 12 anos. Éééééé... Namorando. Curtindo o outro. Se reapaixonando.
Foi a minha geração que inventou o "ficar", porém usavámos isto como um passo antes do namoro, ou seja ficar com alguém era um pré-namoro, pois sempre soubemos que o bom mesmo não era beijar mais bocas, ou abraçar mais corpos. O ótimo era beijar A boca, e abraçar O corpo, e tê-lo para sí ontem, hoje e amanhã.
Deus queira que nós homens vejamos isto como um recomeço das verdadeiras relações com as fantásticas mulheres.
0 comentários:
Postar um comentário